A felicidade é contagiosa? A resposta, surpreendentemente, é sim – e há evidências científicas para isso. Um estudo publicado recentemente no “British Medical Journal” estabeleceu com uma relação matemática que a felicidade é contagiosa e, assim como um vírus, é mais provável que você seja feliz quanto mais próximo estiver de pessoas alegres e serenas.
Quanto menos metros nos separarem de um amigo nosso feliz, maior será a probabilidade de nos sentirmos felizes também.
A partir dos
cálculos dos estudiosos Nicholas Christakis, da Harvard
Medical School, e James Fowler, sociólogo da Universidade
da Califórnia (San Diego) e de psicologia dos estudos em redes
sociais, o resultado confirma que viver perto de pessoas felizes pode
aumentar a probabilidade de você também ser feliz em até 42%. Esta
fórmula numérica foi formulada e resumida num gráfico após
examinar o grau de felicidade de mais de cinco mil pessoas com idades
entre 21 e 70 anos. Os pontos coloridos correspondiam a cada pessoa e
a distância física que os separava era representada por linhas:
ligando estes dois elementos gráficos era possível desenhar o
“diagrama da felicidade”.
O
Efeito da Contagiosidade Emocional
Pesquisas em
psicologia social apontam que emoções não são experiências
isoladas. Mas como isso acontece? O mecanismo fisiológico
questionado para explicar os resultados do estudo é o dos
neurônios-espelho, que são células nervosas específicas do córtex
pré-motor ventral que desempenham um papel fundamental na percepção
das emoções de outras pessoas.
Quando convivemos
com pessoas que demonstram alegria e otimismo, nossos próprios
circuitos neurais podem responder de forma similar. Esse processo,
conhecido como “contágio emocional”, acontece de maneira
quase automática. Estudos usando técnicas de neuroimagem, por
exemplo, demonstraram que quando vemos alguém sorrir, áreas do
nosso cérebro associadas à recompensa e à empatia se ativam,
gerando uma resposta emocional positiva.
A
Importância das Redes Sociais
Uma das pesquisas
mais citadas sobre o tema foi realizada por cientistas que analisaram
grandes redes sociais ao longo de vários anos. Eles descobriram que
as emoções se propagam de pessoa para pessoa, mesmo que não haja
uma interação direta. Se um amigo ou conhecido está feliz, esse
estado pode se espalhar, afetando pessoas a até três graus de
separação na rede social, (amigo do amigo do amigo, por ex.). Esse
efeito acumulativo pode explicar como viver próximo a alguém que
exala felicidade pode aumentar em 42% as chances de você
experimentar os mesmos sentimentos.
Essa pesquisa revelou que há
uma tendência de pessoas felizes estarem no centro de suas redes
sociais e próximas de outras com alto grau de felicidade, criando
aglomerados de pessoas felizes. Ao longo do tempo, as pessoas ficaram
mais felizes quando passaram a ser cercadas por pessoas felizes. Um
amigo feliz que mora por perto (menos de 2 km) aumenta a chance de
felicidade em 25%, irmãos felizes por perto em 14%, e vizinhos em
34%. Esse efeito contagioso da felicidade diminui com o tempo e
também com a distância entre as pessoas, e não foi percebido entre
colegas de trabalho. Esse contágio do comportamento em três graus
parece ser uma regra genérica, já que os mesmos pesquisadores
recentemente o demonstraram também em outros padrões de
comportamento como o tabagismo e a obesidade.
Metodologia
Científica por Trás dos Números
Os cientistas
utilizam métodos estatísticos rigorosos para chegar a essas
conclusões. Eles analisam dados coletados de pesquisas de longo
prazo, aplicam modelos matemáticos e controlam variáveis como o
ambiente, fatores socioeconômicos e características pessoais. Esses
modelos ajudam a isolar o efeito da “felicidade alheia” e
demonstram que, independentemente de outros fatores, a proximidade
com pessoas felizes tem um impacto mensurável em nosso bem-estar.
A
Biologia do Bem-Estar
Além dos estudos em redes
sociais, há também evidências biológicas que sustentam essa
ideia. Quando nos relacionamos com pessoas felizes, nossos níveis de
neurotransmissores, como a dopamina e a serotonina,
tendem a aumentar. Essas substâncias químicas estão diretamente
ligadas à sensação de prazer e bem-estar. Assim, o ambiente social
positivo não só melhora nosso humor, mas também promove mudanças
fisiológicas que podem contribuir para uma saúde mental melhor. Por
outro lado, pessoas que mantém contato com um indivíduo deprimido
têm maior tendência a ficarem deprimidas. Emoções positivas
também se disseminam entre as pessoas próximas. Emoções
positivas, o sorriso, o estado de felicidade, todos podem ser vistos
do ponto de vista evolutivo como um mecanismo que facilita as
relações sociais ao promover sentimentos prazerosos nos outros,
recompensar os esforços dos outros e encorajar a continuidade da
relação social.
Viver perto de pessoas felizes é mais
do que uma questão de sorte ou coincidência – é um fenômeno
científico comprovado. Seja pela ativação de circuitos neurais
empáticos, pelos efeitos comprovados nas redes sociais ou pelas
respostas bioquímicas do nosso corpo, a ciência mostra que a
felicidade contagia. Portanto, investir em relações positivas e
cultivar um ambiente alegre pode ser a chave para aumentar
significativamente sua própria felicidade.
Incorporar
esses achados na sua rotina pode transformar a maneira como você se
relaciona com o mundo e, quem sabe, ajudar a construir uma comunidade
onde o bem-estar de cada um impulsiona o bem-estar de todos.