O famoso naturopata
suíço Max Bircher Brenner (1867/1954) gostava de dizer que a
velhice é uma doença psicossomática, no sentido de que se o
declínio for esperado em uma certa idade, provavelmente isso
acontecerá. De fato, foi demonstrado que o estado mental influencia
o mecanismo de defesa do organismo contra doenças: naqueles que
estão deprimidos e desanimados, não funciona tão bem quanto em
pessoas calmas e otimistas.
A primeira condição
para uma vida longa é, portanto, o desejo de viver. O outro aspecto
a ter em mente é que a sociedade decreta as leis da vida, mas também
as leis da morte e, consequentemente, "as leis do tempo".
Joseph F.
Coughlin em seu livro The Longevity Economy: Unlocking the
World’s Fastest-Growing, Most Misunderstood Market (“A
economia da longevidade: desvendando o mercado em mais rápida
expansão e mais mal entendido do mundo”, diz que o
mínimo que se pode dizer sobre a nossa visão da velhice é que ela
está… velha. E essa vista cansada não desemboca só em
dificuldades para quem tem mais idade. Ela leva ao desperdício de
uma das maiores oportunidades de negócios dos nossos tempos.
O envelhecimento
populacional é um fenômeno mundial: em 2015, 617 milhões de
pessoas tinham mais de 65 anos. No Japão, mais de uma em cada quatro
pessoas está nesta faixa etária. Na Alemanha, Grécia, Itália,
Portugal, Suécia, são mais de 20% dos cidadãos. É uma espécie de
revolução, para a qual o mundo está despreparado, apesar de ela
estar em andamento há décadas, graças à queda nos índices de
natalidade e ao avanço nas condições de vida.
Quando se fala em
envelhecimento, se pensa logo nos gastos em geral das nações (com
os cuidados para idosos), e redução da sua capacidade produtiva
(pela suposta menor disposição para o trabalho). Por isso tantos se
referem ao fenômeno como uma “bomba-relógio demográfica”. Mas
estas não são necessariamente as consequências inevitáveis do
envelhecimento. Como demonstra Joseph Coughlin no seu livro,
que a noção de velhice que temos – mesmo a velhice dourada,
devotada ao lazer – rouba das pessoas a partir de certa idade uma
parcela de seu propósito, de seu bem-estar emocional. E camufla a
maior oportunidade de negócios que as empresas têm para explorar.
Segundo a
consultoria Boston Consulting Group, em 2030 as pessoas acima
de 55 anos serão responsáveis por 50% do crescimento dos gastos de
consumidores desde 2008 nos Estados Unidos. No Japão, serão 67%; na
Alemanha, 86%. Basta olhar os estacionamentos dos shopping-centers.
Até alguns anos atrás, havia quatro ou cinco vagas para idosos
perto dos elevadores. Hoje, na maioria dos shoppings, há dezenas
delas.
Apesar dos
crescentes gastos dessa parcela da população, as empresas têm
feito muito poucos esforços para atrair seu interesse. Nos Estados
Unidos, menos de 15% das companhias tem qualquer estratégia
específica para os mais velhos. E menos de 10% das verbas de
marketing se destinam ao público acima de 50 anos..
A
construção da velhice
A hostilidade em
relação aos velhos deriva da noção de que eles são um grande
custo, um fardo a carregar. Mas mesmo no Japão, cuja língua tem até
uma palavra especial para o homicídio de idosos (Ubasute, o
ato de levar um parente doente ou idoso para o alto de uma montanha e
deixá-lo lá), a realidade é menos drástica do que parece. De
acordo com historiadores, o Ubasute é mais uma lenda do que
uma prática real. E o fardo das pessoas idosas não é assim tão
pesado. O custo de saúde no país atinge cerca de 10% do PIB, menos
que a média de outros países avançados (nos EUA, a cifra é 17%).
De acordo com Coughlin, essa nossa noção da velhice
não é natural. Ela foi construída. E se foi construída, pode ser
modificada.
Historicamente, diz
Coughlin, em diversas culturas e épocas, o envelhecimento era
uma experiência individual, não uma idade predeterminada e não com
as mesmas regras para todos. Foi na segunda metade do século 19 que
isso começou a mudar, com o surgimento dos planos de pensão, dos
asilos e de outras instituições destinadas exclusivamente aos
idosos. Especialmente nas sociedades iletradas e tradicionais,
pessoas idosas representavam a memória, o apego à própria
identidade e aos costumes. Não à toa, o Senado era formado por
anciões. Assim como os conselhos de tantas tribos ao longo da
história humana.
Nos tempos modernos,
porém, a tradição perdeu terreno para o progresso. O novo passou a
valer mais que o antigo. E o antigo podia ser consultado em livros.
Os velhos perderam status. No século 19, considerava-se que uma
pessoa se tornava velha quando sua “energia vital” começava a
chegar ao fim. Acreditava-se, então, que os seres humanos vinham ao
mundo com uma reserva de energia vital, mais ou menos como uma
bateria. Sexo e diversões em geral ajudavam a gastar mais
rapidamente essa reserva.
Mesmo o
revolucionário Sigmund Freud afirmou, em 1904, que as pessoas “perto
ou além dos 50 anos não têm a plasticidade e os processos
psíquicos dos quais depende a terapia” psicanalítica. Estava, em
suma, rejeitando clientes para a sua linha terapêutica – algo que
tantas empresas andam fazendo.
Aceitar a velhice em
nossa sociedade é algo bem difícil. O uso de eufemismos e a
tentativa de negá-la por aqueles que por ela passam também é muito
evidente. Isso acontece porque vivemos numa sociedade que
supervaloriza a juventude em detrimento dos demais tempos da vida.
Nela, ao mesmo tempo em que se buscam diversas maneiras para
prolongar o tempo de vida das pessoas, luta-se contra a velhice.
No início do século
20, a velhice havia se transformado, de uma questão individual a ser
tratada pela família, em uma fase da vida, com data marcada para
começar, e com instituições próprias para lidar com o assunto.
Aposentadoria
– o ócio ocioso
A aposentadoria é
uma dessas armadilhas da vida, como a obesidade ou o vício em séries
de TV: atingir nossos desejos nem sempre é o melhor para nós. No
caso da aposentadoria, o trabalho é um fator de identidade, de
auto-respeito, de propósito.
No paraíso da
“melhor idade”, (um eufemismo que na verdade significa ocaso) as
pessoas são principalmente consumidoras. E quando Coughlin pergunta
quais os avanços tecnológicos para essa faixa, diz ouvir sempre as
mesmas respostas: remédios melhores, robôs para cuidar dos velhos.
São avanços
importantes. Mas restringem a velhice a um problema a ser resolvido.
A expressão:
"fulano já
fez o seu tempo" corresponde a uma condenação "social"
pura e simples. De fato, o corpo, para a maioria das pessoas, está
continuamente sujeito a pressões sociais e culturais.
"Aquele
cara já viveu
bastante e já
tá bom
de morrer!" Esse ditado expressa, de maneira
abstrata, um tempo de vida "autorizado". Por exemplo, a
ideia de receber uma aposentadoria como meio de sobrevivência
implica a idéia de que as pessoas vivam mais do que decreta as
normas vigentes e que a sociedade está concedendo um adiamento.
Nem mesmo o
relacionamento "pais-filhos" escapa à lei do tempo.
Há muitos jovens
que consideram os mais velhos como pertencentes a outro planeta ou
que nem sequer os consideram mais.
A
velhice é um processo mental
A conseqüência
(infelizmente muito frequente) é que os pais, expulsos do circuito
da "normalidade", cedem às pressões
se comportando de acordo com esses decretos até chegar ao ponto de
considerarem esse estado de coisas "natural".
A velhice deve ser
considerada, acima de tudo, um processo mental que pode começar
muito cedo. É o caso de muitas pessoas na casa dos quarenta que
estão presas em uma especialização que as impede de ampliar seus
conhecimentos e interesses diariamente.
O mesmo acontece
para quem não lê, não estuda ou não cria todos os dias.
Negligenciam, portanto, sua máquina cerebral que precisa de
estímulos para o funcionamento adequado.
A velhice mental
avança com a diminuição da vontade de viver acompanhada por um
sentimento de culpa (o de ainda permanecer no mundo) que restringe o
desejo de viver do corpo.
A
eterna busca do elixir da longa vida
Vários soros de
regeneração celular estão disponíveis no campo da medicina.
Virtudes saudáveis são atribuídas a algas ou geléia real.
Outros experimentam certas formas de dietética.
O
Dr Voronoff tentou conter a velhice por meio das glândulas
sexuais de macacos antropomórficos, etc.
É óbvio que,
enquanto se espera que a duração e a qualidade de vida se tornem um
fato biológico e espiritual, a psicologia pessoal de um indivíduo
terá um papel predominante. No futuro, a expectativa de vida
aumentará devido ao progresso da medicina e da biologia, juntamente
com os da espiritualidade e da consciência que se espalharão pelo
planeta.
Imagine um homem que
vive em perfeita harmonia consigo mesmo e, consequentemente, com os
outros, que se alimenta e respira perfeitamente, sem o menor estresse
e que vive em conexão com as energias universais em um ambiente
perfeitamente adequado a ele. Em quanto ele melhoraria e prolongaria
sua vida? É importante saber que o homem não envelhece e morre
rapidamente, como dizem, mas se mata lentamente e que o corpo
responde ao movimento psicológico e social da sua época.
A morte é um tema
que até o momento a humanidade não conseguiu explicar nem resolver,
pelo contrário, tenta negá-la a todo o custo. Mas a morte deve ser
entendida como parte integrante da vida, como um processo que se
inicia no nascimento. Sendo parte integrante da natureza, é uma das
múltiplas formas de sobrevivência: vivemos para a morte, seguimos
em direção a ela. Onde começa uma e onde termina a outra, nunca
saberemos. Este é, apenas, um dos enigmas existenciais que nos
banhamos e nos questionamos diariamente.
“A morte não é
o contrário da vida. A morte é o contrário do nascimento. A vida
não tem contrários”. (Brum)
Fonte: Quotidiano
Italia Sera 2004 – Roma
https://exame.abril.com.br/economia/o-poder-da-idade/