A
alma humana deseja sempre, e mira essencialmente, viver o prazer, ou
seja, a felicidade, que é por si só o prazer. O simples prazer
específico, é limitado na sua duração - pois nenhum prazer é
eterno - e limitado na sua extensão - pois nenhum prazer é
imensurável.
Já
o desejo do Prazer é ilimitado, tanto na duração - porque vai em
igual passo com a existência, terminando com a morte - como na
extensão, porque é substancial em nós, não como desejo de um ou
mais prazeres, mas como desejo do Prazer.
A
natureza existencial das coisas, exige que tudo tenha limite, confins
e seja circunscrito. Porém, o desejo do Prazer, traz consigo o
ilimitado; cada prazer isolado é circunscrito, mas não o Desejo,
cuja extensão é indeterminada e a alma abraça, substancialmente,
toda extensão imaginável desse sentimento. Sendo assim, o desejo do
prazer, vai de encontro às leis da natureza, e sempre que se
infringe uma lei, consequentemente se sofre penalidades.
A
consequência a essa infração, é a sensação de insatisfação,
depois da obtenção. Seria o caso de desejarmos algo, ardentemente,
e, enquanto nutrimos esse desejo, a coisa é para nós preciosa. No
momento em que você deseja uma Ferrari, por exemplo, esse sentimento
se manifesta como o desejo de obter a Ferrari e, concomitantemente, o
desejo a um prazer. Mas a realidade (não percebida) é que você
deseja que esse prazer seja aquele ilimitado. No momento em que você
obtém a Ferrari, você está diante de um prazer circunscrito e,
passada a euforia, sente de novo um vazio na alma, porque aquele
desejo (ao Prazer ilimitado) não foi efetivamente concretizado.
A
expectativa é sempre melhor que a obtenção.
Quando
a alma deseja algo prazeroso, deseja a satisfação de um desejo
infinito, deseja o Prazer e não esse ou aquele prazer. Não obtendo,
gera a sensação do incompleto.
Felizmente,
existe no homem a faculdade imaginativa, a qual dá a possibilidade
de se conceber o real que não existe, como também dar uma
existência ao irreal. Essa faculdade imaginativa atua, também, no
campo do prazer. Logo, o prazer infinito que não se pode
encontrar na realidade, permanece na imaginação, da qual se deriva
a esperança.
O
desejo não é uma procura por parte do ser humano, não é
exatamente a resposta a uma iniciativa do indivíduo, assim como, ter
necessidade de comer e beber, não é uma escolha nossa, mas é doado
pela natureza.
As
necessidades do homem, se manifestam através do desejo, abrangendo,
desde a própria conservação e segurança, auto estima, desejo do
saber, necessidade de amar e ser amado, até ao conhecimento do
transcendental; mas, nem sempre, um desejo corresponde essencialmente
a uma necessidade
Grande
magistério da natureza!
Sabendo
que o homem é capaz de banalizar qualquer coisa, preferiu não doar
a abrangência, a plenitude do prazer, visto que serve pra a própria
conservação, necessária à subsistência. Forneceu, porém, como
sublimação, ilusões e uma imensa variedade de prazeres, assim,
quando se cansar de buscar um, pode-se correr atrás de outros,
indefinidamente, dando-lhe a sensação da obtenção do prazer
infinito.
O
desejo é vivido, partindo do estado da necessidade essencial em
direção à satisfação, que nem sempre é percebida com clareza.
Quando
o desejo se abre à ‘procura de algo’, o objetivo da alma é
encontrar esse ‘algo’. A meta final é vista como um valor, um
bem em si mesmo, porque responde à nossa necessidade de prazer.
Aqui, então, pode entrar o risco de confundir desejos com
necessidades.
A
pessoa com a auto- estima baixa, é perita nessa confusão.
Inconscientemente, acha que não é merecedora de tal (ou tais)
prazer e, automaticamente, transforma o prazer em necessidade
objetiva, colocando a necessidade em oposição ao desejo. A baixa
auto-estima faz crer que o ‘desejar’ é egoismo, algo não
necessário. Dessa forma, quando os desejos afloram, são reprimidos
pra eliminar o sentimento de culpa ou são automaticamente
convertidos em ‘necessidades’ pra serem legítimos.
Procurar
melhorar a auto-estima é importante, não só pra amplificar a
extensão do prazer mas para aprender a se valorizar de forma
equilibrada.
Aumentando
o nivel da auto-estima, se consegue diminuir - ou eliminar totalmente
- o nivel da auto-sabotagem dos nossos merecidos desejos.