Quando
pensamos em evolução humana, é comum imaginar nossos ancestrais
distantes caminhando pela savana africana, ou pensamos em fósseis,
em macacos que se tornaram humanos, em histórias antigas da vida na
Terra. Mas e se a evolução não fosse apenas uma narrativa do
passado distante? E se ela estivesse acontecendo agora, em silêncio,
dentro de cada um de nós e que talvez isso esteja conectado também
a um processo mais amplo de consciência e espiritualidade?
O
corpo que se reinventa
Pesquisadores da Flinders
University e da Università di Adelaide na Australia,
mostraram que cada vez mais pessoas estão nascendo com a artéria
mediana persistente no antebraço — um vaso sanguíneo que deveria
desaparecer após a fase embrionária. Essa artéria extra pode
melhorar a circulação da mão e do braço. É como se o corpo
estivesse se ajustando para novas necessidades.
Segundo o
estudo, a presença dessa característica pode ser indicativa de um
processo microevolutivo, mas, acima de tudo, nos dá uma medida da
velocidade com que o corpo humano está evoluindo.
O anatomista e pesquisador Teghan Lucas afirma que "os humanos modernos estão evoluindo a um ritmo mais rápido do que em qualquer outro momento dos últimos 250 anos".
Enquanto a artéria mediana estava presente em 10% da população entre os nascidos em 1880, 30% dos nascidos no final do século XX mantiveram a terceira artéria.
O fato de a artéria parecer ser três vezes mais comum em adultos hoje do que há mais de um século, é uma descoberta surpreendente que sugere que a seleção natural está favorecendo aqueles que mantêm esse suprimento sanguíneo extra. Uma pequena mudança, quase imperceptível, mas que pode aumentar a circulação sanguínea, favorecendo àqueles que possuem esse vaso a manter um maior fluxo sanguíneo, tornando seus braços mais fortes.
A
capacidade de digerir leite
A maioria dos
mamíferos só consegue digerir lactose na infância. Mas, em
populações humanas que passaram a criar gado, espalhou-se uma
mutação: a capacidade de continuar produzindo lactase na vida
adulta. Resultado? O leite se tornou uma fonte de energia vital em
épocas de escassez. Isso aconteceu em apenas alguns milhares de anos
— um piscar de olhos para a evolução.
O
sumiço dos dentes do siso
Com mudanças na
alimentação (comida mais macia, uso do fogo, utensílios), nossas
mandíbulas ficaram menores. Hoje, muitas pessoas já nascem sem os
terceiros molares. Um traço que antes era útil está desaparecendo,
como se o corpo estivesse desapegando de algo que já não serve.
O mesmo acontece com a fabela, um osso primordial na região flexora externa posterior do joelho, e outros ossos pequenos chamados "sesamoides"; sua incidência está triplicando em comparação com um passado, não tão distante.
Uma equipe do
Imperial College London comprovou isso: enquanto em 1918 a
fabela era encontrada em apenas 11% da população mundial, em 2018 a
porcentagem aumentou para 39%. A causa, segundo alguns, é a nossa
dieta, que nos torna mais altos e pesados, com canelas mais longas e
panturrilhas mais musculosas, de modo que os ossos pequenos podem dar
mais estabilidade ao joelho.
O
chamado da consciência
Se o corpo se ajusta,
será que a mente e o espírito também acompanham esse processo?
Algumas tradições espirituais acreditam que a humanidade atravessa
um tempo de ascensão, em que não apenas os genes, mas também a
consciência se modifica. O despertar da empatia, a busca por
sentido, a conexão com algo maior do que nós mesmos — tudo isso
pode ser lido como sinais de uma evolução interior.
A ciência
observa mudanças físicas; a espiritualidade enxerga mudanças na
forma como nos relacionamos com o mundo, com os outros e conosco
mesmos. Talvez sejam dimensões diferentes do mesmo movimento: a vida
buscando expandir-se.
Biologia
e espiritualidade, dois lados do mesmo caminho
A
ciência descreve mutações, genes e ossos. A espiritualidade fala
de despertar, luz e expansão. Mas talvez estejam narrando a mesma
história em línguas diferentes. Uma história onde a vida nunca
está pronta, apenas florescendo em novas formas.
Pensar na
evolução como algo contínuo pode nos inspirar a ver nosso papel na
Terra de outro jeito. Não somos apenas resultado do passado —
somos também sementes do futuro. O corpo evolui para se adaptar, mas
talvez a consciência evolua para se elevar.
Ainda estamos
evoluindo biologicamente, mas talvez a maior transformação que
vivemos seja a expansão da nossa consciência — uma forma de
evolução que muitas tradições chamariam de espiritual.
Esses exemplos
mostram que a evolução é contínua. O corpo humano não é uma
versão final, mas uma obra em andamento.
Por menores que
sejam essas diferenças, essas minúsculas mudanças microevolutivas,
sua soma ao longo de centenas de anos definiria nossa espécie de uma
forma inteiramente nova em relação ao que ela é hoje.
E assim, seguimos: corpos que se adaptam, consciências que se abrem, almas que buscam ascender. A evolução não terminou — ela é a própria respiração do universo dentro de nós.
A história humana é uma farsa. Aqui está toda a verdade! - Capítulo XIV