Estudos e pesquisas mostram que os seres humanos são bem mais habilidosos para seguir padrões do que para conceber novos pensamentos. A maior parte dos circuitos neurais do cérebro dedica-se a reconhecer, armazenar e recuperar padrões. Para pensarmos fora da caixa de um hábito fossilizado é preciso exercitar o lado do cérebro que não é dominante, forçando-o a pensar diferente. A característica mais extraordinária do cérebro é a de que ele não é um órgão estático, e sim passível de mudanças e evolução - graças às experiências e estímulos aos quais está sujeito.
Quando nos deparamos com algo novo, algum conceito que não conhecemos ou algum objeto estranho, não temos padrões para identificá-lo. Procuramos, então, ligá-lo a um padrão existente, a algo que já conhecemos. Depois de tocá-lo, observá-lo e pesquisar sobre ele, começamos a compreendê-lo, e o passo seguinte é construir um padrão de repetição que nos permita reconhecê-lo quando se reapresentar.
Às vezes instauramos uma relação tão cômoda com um hábito negativo, que preferimos sustentar essa situação conhecida ao invés de nos arriscarmos a enfrentar a incerteza da mudança.
Muitas vezes o objetivo não é exatamente proteger o próprio bem-estar psicológico, mas preservar as certezas que se solidificaram em nossa história. E essa é a armadilha da estagnação na zona de conforto. Na verdade, não é dito que estamos realmente confortáveis nessa zona. Às vezes nos sentimos mal, mas também aprendemos a nos sentir à vontade com o desconforto, pois ele pode nos soar familiar. O que é rotineiro não requer esforços adicionais.
Perdemos o hábito de Pensar
Com o advento de internet, surgiu a chamada Indústria Cultural, operada também pelos meios de comunicação massivos. Cinema, televisão e jornais tornaram-se a expressão de uma cultura de homologação de consciências. Por isso, longe de ser uma ferramenta para o pensamento livre, a indústria cultural subjuga o homem, dá-lhe os valores em que deve acreditar, os ideais de vida que deve desejar e até como e quando se divertir.
Com a Mente Global de hoje, somos todos um pouco googleístas. Pensar com a própria mente está se tornando sempre mais raro.
Os hábitos e a maneira de pensar mudaram. Nossas mentes foram alteradas por nossa crescente dependência dos mecanismos de pesquisa. Assim, o uso das Social Networks e de todas as tecnologias digitais, nos tornou como muitos neurônios conectados à mente global.
No entanto, como disse Kant: “Sempre se encontrarão pessoas que pensam por si mesmas e que, sacudindo o jugo da minoria, espalharão o sentimento de uma apreciação racional do valor de cada homem e da sua vocação de pensar por si mesmo”.
A verdade é que ninguém consegue ser completamente dono da propria mente. Somos seres sociais e, necessariamente, muito influenciados por outros. E isso nem sempre é ruim.
O uso da internet não é um mal em si mesmo. Muitos neurocientistas acham que ela melhorou a inteligência humana e são convictos de que as tecnologias foram desenvolvidas, precisamente, para apoiar a capacidade humana de metabolizar mais e mais conhecimentos, tornando-se capaz de gerenciar melhor a sobrecarga de informações. O Google, por exemplo, pode não ser um problema, mas o começo de muitas soluções.
O problema surge quando delegamos não apenas às tecnologias, mas a outros semelhantes - família, grupos, comunidades religiosas, empresas – a responsabilidade e o poder de decisão sobre a nossa autenticidade, e tudo aquilo que acreditamos e escolhemos ser, começa a ter que passar pelo crivo de alguém ou de alguma instituição para que seja válido ou verdadeiro para nós.
Precisamos nos recriar como seres originais, criativos e autênticos. É hora de pensar fora dos esquemas que nos fazem apenas massa, parar de retroalimentar velhos ciclos de conceitos reforçados pela indústria cultural, pela criação e valorização social de padrões de comportamentos apresentados pela mídia.
Basta de trabalhar duro e investir esforços para adquirir bens que não se necessita ou gastar um dinheiro que ainda não se tem, apenas para impressionar pessoas que a gente nem gosta.
É hora de deixar a escravidão da obsolescência psicológica e reinventar nossas existências com a liberdade do nosso verdadeiro ser. Para isso, precisamos, antes de mais nada, sair da caixa tridimensional a fim de buscar novas formas de pensar fora do convencional. Às vezes o problema pode não ter soluções pelas vias já conhecidas, então é necessário abrir novos caminhos. As estradas já percorridas tendem a se tornar sulcos profundos dos quais é difícil sair.
Como disse Carl Jung: “Nascemos originais, mas morreremos cópias”. Se assim determinarmos que seja.
Pensando fora da caixa – Cap. 2
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