Dizem as más línguas que a base dessa obstinação está no sentimento, tão velho quanto o mundo: a inveja do ventre. A maioria dos homens continua assustada por causa da potencial supremacia da mulher. Que queiram ou não, somos um laboratório bioquímico que produz almas e transmitimos emoções que poderão influenciar o feto no modo como ele interagirá com o mundo. Logo, o homem teme que se acrescentarmos um poder a mais – no campo político, social ou industrial que seja – o sexo forte terminará marginalizado. Esse sentimento vai passando de pais a filhos e nem mesmo as novas gerações aceitam de boa vontade o papel da mulher de poder.
A mulher, sendo um ser intrinsicamente emotivo, começa a ressentir-se. É um dissabor que se insinua nos jantares entre amigas, igualmente executivas, que se encontram à noite nos restaurantes, sem um trapo de homem do lado. Algumas o perderam, próprio nos almoços e jantares, onde elas passavam todo o tempo a atender telefonemas de trabalho, e depois disso, eles desapareceram pra sempre. O que fazer! Muitas já estão se organizando, criando associações pra encontrar um modo de conciliação. As Mirandas Complex já estão recorrendo a truques estratégicos, a fim de que o status quo não seja um fardo pesado pra eles. É desolador, mas muito realístico. Em outros tempos, muitas mulheres simulavam o orgasmo, hoje, pra não castrar o pobre companheiro, escolhem o baixo profilo, procurando se obscurar aos olhos deles.
Quando você ver uma amiga com uma brilhante carreira, autônoma, de repente se tornar insegura e dependente de um macho, pode apostar que pegou a síndrome de Miranda.
O que fazem, então, as ricas e afirmadas executivas? Escondem o verdadeiro status de bem-estar pra não intimidar e ferir o brio desses frágeis e sensíveis aspirantes a não-se-sabe-bem-a-que coisa, só pra não ter que passar as noites rodeadas de potentes amigas em crise, quase todas sócias de círculos tipo SOS-mulheres desesperadas.
Elas começam escondendo no fundo do armário todas as bolsas, óculos e vestidos grifados; os amigos potentes são ocultados, assim como masters e diplomas empresariais. Sabe como é, né? Melhor que ele não veja, senão escapa!
Se apresentam, não como Diretora-Gerente-Presidente, mas como Responsável da Administração... Comunicação... Exportação etc. As viagens de trabalho, são meras visitas aos pais, tios ou avós enfermos. Estaciona o Fora-de-Estrada no fundo da garagem por tempo indeterminado, usando sempre o micro carro de segunda mão. Esses sao sintomas que poderão ser resolvidos com poucas sessões de psicanálise.
Mas Atenção! Se uma sua cara amiga, antes muito independente e autonôma, e agora começar a dizer: ao restaurante é ele que deve escolher e fazer os pedidos; comunicar ao taxista a destinação é incubência do macho, ou começar a fazer com que ele acredite que sem os seus conselhos ela é uma mulher morta, ajude a pobre coitada. Interne ela urgentemente, no primeiro hospital psiquiátrico que encontrar. A síndrome di Miranda é em fase aguda. E isso é Grave!
Se possível, esconda dela todos os manuais que já foram publicados, ensinando todas as Mirandas arrependidas como segurar seu homem com um mix de paixão, diálogo, renúncias, dependências, submissão e overdose de carinhos e até como comportar-se como uma boa mãe, perdoando as suas eventuais traições.
Tudo bem, pode ser até que ela se cure, mas é bem melhor ser uma Miranda sozinha, com histórias ocasionais, e poder gozar dignitosamente o sucesso, sem nenhuma síndrome ou complexos “mirandolantes”, que uma anti-pós-contra-Miranda, que renunciando seu sucesso e autonomia, ganha, unicamente, um musculo a mais .