giovedì 18 dicembre 2025

A consciência é um produto do universo ou o universo é o produto da consciência?

 



Poucas perguntas atravessaram tantas épocas, culturas e disciplinas quanto esta. Ela parece simples, quase poética — mas esconde uma das maiores tensões do pensamento humano: o que vem primeiro, a matéria ou a experiência?
Durante séculos, essa questão foi tratada como um problema filosófico. Hoje, ela também é científica, espiritual e existencial.

O ponto de vista do materialismo científico
A ciência moderna nasceu com uma aposta clara: o universo existe independentemente de nós. Galáxias, átomos e leis físicas estariam lá mesmo que nenhum observador estivesse presente.
Dentro dessa visão, chamada de materialismo, a consciência surge como um subproduto tardio da evolução: primeiro vieram partículas, depois átomos, moléculas, vida, cérebros e, por fim, a experiência consciente.
Aqui, a mente é entendida como algo que emerge da matéria, assim como a chama emerge da combustão. Quando o cérebro se organiza de forma suficientemente complexa, a consciência aparece.
Essa abordagem trouxe avanços extraordinários: medicina, tecnologia, neurociência. No entanto, ela enfrenta um problema persistente, conhecido como o “problema difícil da consciência”:

Como processos físicos objetivos geram experiências subjetivas?

Essa pergunta é tão perturbadora que ganhou um nome próprio na filosofia da mente: o problema difícil da consciência, formulado por David Chalmers.

A ciência consegue explicar muita coisa sobre o cérebro: como neurônios disparam, como circuitos processam informações, como áreas cerebrais se ativam durante emoções, Mas há um salto inexplicado: como processos físicos objetivos geram experiências subjetivas, como dor, amor, cor ou sentido? Até hoje, nenhuma equação descreve o que é o sentir.

Como algo sem experiência (átomos, elétrons) pode gerar algo que se sente? Nenhuma combinação de coisas que não sentem parece logicamente capaz de produzir sensação. É como tentar extrair melodia juntando apenas partituras silenciosas.

O abismo entre descrição e experiência
Imagine um cientista observando seu cérebro enquanto você sente dor. Ele pode medir: impulsos elétricos, liberação de neurotransmissores, padrões de ativação neural, Mas nada nesses dados contém a dor em si. A dor não é elétrica, não é química, não é mensurável. Ela é vivida.
Filósofos chamam essas qualidades subjetivas de qualia: o “como é” sentir algo, aquilo que só existe do ponto de vista de quem vive.

E esse é o ponto crítico: não existe, em nenhum mapa do cérebro, o vermelho do vermelho, o amargo do amargo, o amor do amor.
A ciência descreve correlações, não origens da experiência.

Quando a filosofia levanta a sobrancelha
A filosofia ocidental nunca aceitou o materialismo de forma tão pacífica quanto a ciência moderna.
Platão já desconfiava de que o mundo sensível era apenas uma sombra de uma realidade mais profunda. Para ele, a essência das coisas não estava na matéria, mas nas ideias.
Séculos depois, Descartes separou radicalmente a mente e a matéria, criando o famoso dualismo:
res cogitans (coisa pensante) e res extensa (coisa material).
Mas foi no idealismo que a pergunta ganhou força máxima. George Berkeley afirmou algo radical:
“Ser é ser percebido.”
Para ele, o universo não poderia existir sem uma mente que o percebesse — e essa mente última seria Deus. Para Berkeley, não faz sentido falar de um objeto existindo por si só, fora de qualquer mente. Quando você diz “uma árvore existe”: você quer dizer que ela é vista, tocada, cheirada, ou pensada. Mas tudo isso ocorre na experiência consciente.
Então ele pergunta:
O que sobra da árvore se retirarmos toda possibilidade de percepção? Cor, forma, textura, som — tudo desaparece. Resta apenas um conceito abstrato, nunca experimentado.
Mais tarde, Kant sugeriu que não conhecemos o mundo “como ele é”, mas apenas como ele aparece à consciência, filtrado por categorias mentais como espaço e tempo. Ou seja: o universo que experimentamos já nasce moldado pela mente.

As tradições espirituais entram na conversa
Enquanto o Ocidente debatia matéria versus mente, tradições orientais seguiam outro caminho.
No hinduísmo e no budismo, a consciência não é um efeito colateral do cosmos — ela é o fundamento. O universo surge como manifestação, ilusão ou expressão dessa consciência primordial.
No Advaita Vedanta, por exemplo, a realidade última é Brahman, consciência infinita. O mundo material seria uma aparência dentro dela. Curiosamente, essas tradições não tratam a consciência como algo pessoal, mas como um campo universal, do qual os indivíduos são expressões temporárias.

E se a pergunta estiver invertida?
A ciência pergunta: Como a matéria produz a consciência?
Mas talvez a pergunta mais profunda seria: Como a consciência produz a experiência de matéria? Essa inversão não nega a ciência; apenas mostra seu limite inevitável, questiona seu fundamento ontológico - (a reflexão sobre a essência da existência, indo além da mera aparência ou das características físicas para entender o que faz algo ser o que é).
Alguns físicos e filósofos contemporâneos começaram a flertar com essa ideia. Não porque tenham “provado” algo místico, mas porque perceberam um fato estranho: Toda medição científica ocorre dentro da consciência. Ela não é um detalhe externo ao método científico. Ela é o meio onde o método acontece.

Nunca acessamos o universo diretamente, mas apenas através de experiências dele. Você vê uma maçã mas não acessa a maçã “em si”. O que chega até você são: fótons refletidos, sinais elétricos na retina, impulsos neurais no cérebro.
E o que você experiencia é: uma cor vermelha, uma forma arredondada, uma textura imaginada, um sabor antecipado. Tudo isso acontece na experiência consciente. Você nunca toca a maçã “fora da experiência”.

Portanto, o universo conhecido é, inevitavelmente, um universo vivenciado. Um diálogo, não uma guerra.

Cada medição, cada teoria, cada equação e cada imagem do cosmos — do átomo às galáxias — acontece como experiência. Nunca tocamos a realidade “em si”. Tocamos sempre a vivência da realidade. O universo conhecido não é um território neutro e externo, mas um fenômeno que se apresenta, momento a momento, a um observador consciente.
Talvez a consciência seja, ao mesmo tempo moldada pelo universo e o meio pelo qual o universo se revela. Como duas faces da mesma moeda.

É por isso que o problema da consciência resiste. Tentamos explicá-la como se fosse um personagem dentro do filme, esquecendo que ela pode ser a tela onde o filme acontece. Procuramos o observador dentro do espelho, quando talvez ele esteja diante dele. Questionamos como a matéria gera experiência, sem antes perguntar se a experiência não seja a condição para que algo como “matéria” seja sequer concebido.
Talvez nunca tenhamos uma resposta definitiva. Mas talvez a pergunta exista justamente para isso:
Não para ser resolvida, mas para nos despertar.

E talvez o papel mais profundo da ciência, da filosofia e da espiritualidade não seja encerrar essa questão — mas mantê-la viva. Porque é nessa pergunta aberta, sem resposta final, que algo essencial em nós desperta.

Talvez a consciência não seja algo que o universo produz. Talvez o universo seja algo que a consciência experiencia.
Se isso for verdade, então a pergunta muda completamente:
Não é “onde a consciência está no universo?”, mas “onde o universo está na consciência?”

Mas onde está o EU que SOU? - Cap. 20

Entre o Universo-Deus e TODOS os demais seres, não existe separação – Cap. XII



Nessun commento: