Diferentes modelos
mentais podem motivar diferentes percepções, sentimentos, opiniões
e ações. Segundo Peter Senge, os modelos mentais “são
pressupostos profundamente arraigados, generalizações, ilustrações,
imagens ou histórias que influem na nossa maneira de compreender o
mundo e nele agir”. Os modelos mentais condicionam todas as
nossas interpretações e ações. Eles definem como percebemos,
sentimos, pensamos e interagimos.
Os filtros através
dos quais nós, seres humanos, organizamos e damos sentido às nossas
experiências, provêm basicamente de fontes como a biologia, a
linguagem, a cultura e a história pessoal e também determinam a
resposta “habitual” a certas circunstâncias, programada no
modelo mental.
O primeiro filtro
dos modelos mentais é o sistema nervoso. Temos limitações
fisiológicas que nos impedem de perceber certos fenômenos com os
sentidos. O alcance do ouvido humano, por exemplo, é de 20 a 20.000
vibrações por segundo, enquanto os cães conseguem ouvir tons mais
agudos e os elefantes, tons mais graves. A visão noturna do ser
humano não se compara com a do felino, e nossa visão a distância é
muito inferior à do falcão. O ser humano é capaz de ver
diretamente as frequências que estão entre 380 e 680 milímetros,
ou seja, uma faixa minúscula do espectro eletromagnético.
A impossibilidade de
perceber implica impossibilidade de agir.
Enquanto o cão responde a
um apito ultra-sônico, a pessoa nem o ouve. Enquanto o morcego opera
na mais absoluta escuridão, a pessoa se perde. Por isso nós, seres
humanos, inventamos instrumentos como o sonar e o radar para expandir
o alcance perceptual de nossos sentidos e, consequentemente, nossa
capacidade de ação.
Os
hábitos são notavelmente rígidos
Nos modelos mentais
estão o arquivo que contém os comportamentos rotineiros.. Tudo o
que automatizamos. Ou seja, a capacidade de agir de modo automático,
transferindo essas decisões para o inconsciente e aproveitando
aquilo que Gregory Bateson denomina “a economia do hábito”.
Dessa forma, os hábitos se tornam inflexiveis e muito
difíceis de reprogramar.
Portanto, a economia
consiste precisamente em não se pôr a reexaminar nem redescobrir as
premissas do hábito cada vez que o hábito é utilizado. Podemos
dizer que essas premissas se tornam parcialmente “inconscientes”
ou que a pessoa desenvolveu o hábito de não as examinar”
A falta de
flexibilidade e adaptação diante das mudanças de contexto é uma
das principais causas de extinção de espécies (como os
dinossauros), culturas (como a romana), empresas (99 de cada 100
desaparecem sem seus primeiros 10 anos ), famílias (60% dos
casamentos no Brasil terminam em divórcio) e pessoas (segundo dados
recentes, 50% das mortes antes dos 40 anos podem ser atribuídas ao
comportamento das pessoas).
“Racionalidade”
é uma opinião condicionada pelo modelo mental de cada pessoa
As diferentes
percepções, opiniões e ações não constituem um problema em si
mesmas. Elas se tornam conflituosas, na verdade, quando cada pessoa
acredita que a sua maneira de ver as coisas (de acordo com seu
modelo mental) é a única “razoável”.
Fica obvio,
portanto, que a ideia de “racionalidade” é uma opinião
condicionada pelo modelo mental de cada pessoa. Cada um acredita que
seu modelo é o modelo válido. Em vez de utilizar as diferentes
percepções para expandir suas perspectivas e integrá-las em uma
visão comum, cada um dos interlocutores se aferra ao seu próprio
ponto de vista. Em vez de indagar sobre o raciocínio do outro
para compreender seu modelo mental, os interlocutores travam uma
batalha para definir quem tem razão, quem tem a interpretação
“correta” da realidade.
A
Cultura cria um padrão de pressupostos
Poderíamos
considerar a cultura como um modelo mental coletivo. Como define
Edgard Schein, “a cultura é um padrão de pressupostos
básicos compartilhados, aprendidos por um grupo durante o processo
de resolução de seus problemas de adaptação externa e integração
interna. A prova de que esse padrão de pressupostos se tornou
funcionante é quando ele tem funcionado bem o suficiente ao ponto de
ser considerado válido e, portanto, apto para ser ensinado aos novos
membros como a maneira correta de perceber, pensar e sentir os temas
referentes ao grupo”.
No entanto, os
desafios às crenças compartilhadas criam ansiedade e
entrincheiramento. Mudar os pressupostos culturais é um processo
extremamente árduo.
Modelos pessoais
- modelos mentais é a história pessoal: raça, sexo, nacionalidade,
origem étnica, influências familiares, condição social e
econômica, nível de educação, a maneira como fomos tratados por
nossos pais, irmãos, professores e companheiros de infância, a
maneira como começamos a trabalhar e nos tornarmos auto-suficientes
etc. Todas essas experiência moldam o modelo mental que a pessoa
utiliza para navegar pelo mundo. Do mesmo modo como as experiências
coletivas de aprendizado se transforma na cultura, as experiências
pessoais de aprendizado se alojam nos estratos mais básicos da
consciência e criam predisposições automáticas para interpretar e
agir.
Há premissas do
modelo mental que as pessoas adotam desde a mais tenra infância,
mesmo antes de terem alguma capacidade de reflexão crítica. Ao
longo da vida, essas ideias recebidas de maneira inconsciente se
mantêm subjacentes à infinidade de juízos, atitudes e
comportamentos que a pessoa considera “óbvios”.
As experiências
pessoais, a biologia, a linguagem e a cultura forjam cada modelo
mental particular. Esse modelo leva a pessoa a se associar com certos
indivíduos e não com outros; a pensar de uma certa maneira e
rechaçar outra; a empreender certas ações sem sequer considerar
outras; a decidir o que é aceitável e o que não é. Cada pessoa
funciona a partir do seu modelo mental e vive naturalmente na “sua”
realidade. Mas essa realidade talvez não seja a mesma percebida
pelos outros, cuja biologia, linguagem, cultura e histórias pessoais
são diferentes. Todos os seres humanos vivem na mesma realidade,
mas a experimentam subjetivamente de maneira diversa.
Modelos mentais são
relativos por sua própria natureza, nunca são absolutos. É fácil
perceber quando somos influenciados por modelos mentais arraigados
ao julgar o comportamento dos outros como errado ou inadequado.
Ao relativizarmos
nossas crenças, construímos um estado de liberdade que nos
possibilita considerar a verdade do outro como mais uma perspectiva
de uma realidade igualmente relativa.
O que é bonito,
feio, adequado, certo e errado? De que lugar observamos a realidade?
Ao compreendermos que nada é absoluto, não há sustentação para
afirmativas desse tipo.
Para ser cada vez
melhor é necessário desafiar nossos pressupostos mais profundos,
relativizar nossas crenças e abrir a mente, o coração e a vontade
para fazer diferente dia após dia.
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