Sorry or not sorry, this is the question!
Admitir que errou coloca qualquer pessoa em uma situação constrangedora, na qual entra a consciência do erro cometido, mas também o fato de colocar-se em discussão por ter cometido um erro, necessitando de alguma forma, reparar o dano.
“Sorry / Is all that you can’t say / Years gone by and still / Words don’t come easily / Like sorry, like sorry”.
"Sinto muito / Isso é tudo que você não pode dizer / Os anos passam e ainda / As palavras não vêm facilmente / Como um pedido de desculpas".
É o incipit de Baby can I hold you, uma das canções mais famosas do final dos anos 80, de Tracy Chapman. Uma frase que incorpora um sentimento e um comportamento bastante comum: a dificuldade de se desculpar mesmo quando se tem mais ou menos consciência de estar "errado" ou de ter magoado o outro. Uma incapacidade, às vezes apenas uma reticência, de pedir perdão que é muito humana e em muitos aspectos compreensível.
O grande problema do orgulho é a polaridade.
A principal causa do orgulho é o medo. A pessoa tem medo de não ser aquilo que quer mostrar fora. O medo de estar errado, o medo de falhar, o medo de errar. Reconhecer de haver errado e admitir isso, parece corresponder à diminuição de nós mesmos; parece perder poder, perder uma imagem positiva de nós mesmos em relação aos outros...
Assim, se infla em orgulho para se defender dos ataques externos e não deixar os sentimentos internos virem à tona. Joga-se a culpa em alguém, quando algo dá errado, e toma-se todos os méritos para si quando algo dá certo. O orgulhoso acredita que para um estar certo, o outro tem que estar errado. Ou que abraçar o que o outro diz, é “se rebaixar”. Essas percepções limitadas trazem separação e desacordo, que é o inverso do princípio universal de harmonia. Paz, alegria, amor, felicidade, construtivismo só existem com harmonia e acordo. Logo, o orgulho é um obstáculo para a concretização de relacionamentos sólidos.
Por que é tão difícil pedir desculpas?
Errare humanum est, palavras de Santo Agostinho. Se errar é humano, admitir o erro e pedir desculpas deveria nos tornar divinos! A. Pope
A maior parte de nós, geralmente acredita de estarmos certos, quando somos contestados. Essa é uma das causas do porquê seja tão difícil pedir desculpas?
O que funciona como denominador comum para as muitas dificuldades em pedir desculpas poderia ser, portanto, a incapacidade real ou percebida de entrar em contato profundo consigo mesmo e com o outro. Os psicólogos Roy Lewick e Leah Polin descobriram que é sempre mais fácil ouvir "Ok, desculpe se isso te incomodou" do que "Ok, admito de ter cometido um erro e peço desculpas". O primeiro exemplo tenta reparar um pouco o fator emocional, mas não demonstra um sentimento genuíno de responsabilidade; se assume plenamente as responsabilidades, desculpando-se aberta, sincera e corajosamente.
Partimos sempre da suposição de que o que fazemos é correto, enquanto o que os outros fazem é frequentemente errado. Ou seja, os seres humanos acham muito difícil admitir seus erros, porque, geralmente, cada um de nós está sinceramente convencido de não ter cometido nenhum erro!
O gesto de pedir desculpas é complicado por várias razões e, por várias outras razões, é necessário e virtuoso. Reconhecer que estamos errados é como ir contra a corrente, seria como ter que subir a corrente do nosso pensamento, que naturalmente flui em uma única direção, a de estarmos convencidos de haver dito e feito a coisa certa.
O antídoto para o orgulho é a gratidão
A gratidão nos protege do aspecto de superioridade e de agente causador do sucesso. Passamos a nos enxergar como uma peça da engrenagem e não a própria engrenagem.
Agradecer significa “deixar a graça descer”. Entender que aquilo que temos e fazemos é um reflexo do que somos. Que nos foi permitido exercer um governo, uma responsabilidade temporária sobre aqueles bens materiais, funções sociais, cargos ou pessoas. Até mesmo sobre o nosso corpo físico, emocional e mental.
O orgulho enxerga a causa que traz a ilusão de que conquistamos por nosso mérito exclusivo. A gratidão enxerga o contexto que permite a sincronicidade para que as coisas aconteçam perfeitamente como tinham que ser.
Pedir desculpas pode ser tão difícil quanto poderoso.
Quem se desculpa, demonstra ter boa auto-estima; aqueles com baixa auto-estima são aqueles que acham mais difícil se desculpar. Pedir desculpas significa mudar, e mudar é sempre difícil porque implica mudar a ideia que temos do mundo, especialmente a ideia que temos de nós mesmos, porque estamos apegados demais à nossa visão do mundo, dos outros e de nós mesmos. É ter que sair da nossa zona de conforto, e nem sempre é fácil.
Pedir perdão de forma sincera e real implica uma abertura honesta para a pessoa ferida e pode se transformar em uma oportunidade de dar um salto de nível e de qualidade dentro da própria relação, trazendo maior intimidade e uma mudança para melhor na relação . Perceber-se mais capaz de se explicar para os outros e de ser agente de mudanças positivas, gera bem-estar no indivíduo. De forma mais geral, a melhoria do relacionamento proporciona uma sensação de realização e satisfação para cada uma das partes envolvidas.
Nem toda desculpa é eficaz
A Harvard Business Review descreve vários tipos de desculpas ineficazes:
-Existem as desculpas formais, vazias de qualquer sentimento autêntico. Apenas palavras ditas de maneira reticente e apressada, sem envolvimento substancial. Elas são inúteis.
-Há também desculpas excessivas, repetidas e irritantes, que colocam o ferido e seus sentimentos de remorso no centro do relacionamento e, paradoxalmente, forçam a pessoa ferida a confortar quem lhe causou o dano.
-Há, ainda, as desculpas incompletas. Dizer apenas “me desculpe” pelo que aconteceu, significa não reconhecer o proprio papel (e a propria responsabilidade) do que aconteceu e não se comprometer em evitar que uma situação semelhante aconteça novamente no futuro. Fácil demais...
-E há as desculpas negadas: “ei, não é minha culpa!”
Pelo menos são sinceras porque é o ego que fala e se recusa a admitir qualquer culpa. Esse tipo de desculpas não é apenas ineficaz, mas contraproducente pois aumenta o dano infligido e prejudica definitivamente a possibilidade de salvar o relacionamento.
Admitir os seus erros é sinal de autoconhecimento e maturidade
Quando você se recusa a pedir desculpas,você está tentando gerenciar suas emoções. A recusa está ligada à preservação da autoestima e, portanto, a um comportamento defensivo por parte de quem erra. Se pressupõe, portanto, de adquirir na recusa, poder e controle que se traduzem em sentimentos de autovalorização. Um pedido de desculpa pode ser encarado como algo ameaçador, uma incapacidade, afetando diretamente a autoconfiança e a autoestima.
Em vez disso, abrir-se aos outros, admitir o próprio erro e se desculpar diante de quem se sentiu ofendido, é extremamente terapêutico e fortalecedor. Damos ao erro um valor negativo, mas é importante compreender que ele pode levar ao aprendizado. É preciso lidar com os erros de forma mais leve, sem tanto auto cobrança"
Se desculpar envolve um amadurecimento e para isso é preciso revisar nossas atitudes e entender que reconhecer um erro não significa saber menos ou ser uma pessoa errada mas, ao contrário, demonstra empatia e preocupação com os sentimentos do próximo, ganho de inteligência emocional e auto-responsabilidade, aprendizados sobre a vida nas diferentes situações.
“Ao contrário do que a sociedade nos apresenta, não devemos nos menosprezar por errar em algum momento. Todos erramos em atitudes e palavras em fases da vida, afinal, somos seres em construção. Portanto, compreender que errar faz parte da vida e assumir esses erros é importante para amadurecermos como pessoa", ensina a psicóloga Gabriela Bandeira.
Mais do que "dar o braço a torcer", assumir que estamos errados é aprender a lidar com a avalanche de sentimentos que o orgulho pode nos causar, dentre eles a vergonha e a sensação de inferioridade perante o outro. Além disso, quando reconhecemos os nossos erros e nos desculpamos por eles, conhecemos melhor as emoções e as reações à elas, o que gera autoconhecimento e demonstra maturidade: "Isso nos faz crescer e fortalecer como pessoas e, consequentemente, faz com que consigamos construir relações mais verdadeiras com o outro", finaliza Gabriela.
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