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lunedì 27 gennaio 2020

Inteligência Artificial - um novo modelo mental de interação social




O dualismo corpo-mente, modelo ainda hoje amplamente adotado em várias áreas de conhecimento, é o pano de fundo das nossas preocupações. Descartes se perguntou como seria possível que o mundo fosse representado pela ciência como algo que obedece a leis definitivas, enquanto o espírito humano escapava das leis da física, uma vez que temos o livre arbítrio. A divisão cartesiana dos seres humanos em duas partes distintas – um corpo sujeito às leis da física e uma mente alheia a elas – legou para a filosofia as considerações centrais da filosofia da mente.
A principal questão dessa filosofia é explicar a mente no âmbito da ciência natural, especificamente da física. Este viés cartesiano influenciou vários traços da cultura ocidental e das humanidades. Mais recentemente, essas ideias influenciaram a psicologia e a ciência cognitiva, que tem o dualismo corpo-mente como principal pressuposto.

O desenvolvimento de dispositivos computacionais digitais e eletrônicos renovou o interesse em conciliar os pressupostos filosóficos da mente. O computador é uma máquina que pode reproduzir algumas funções intelectuais humanas, como efetuar cálculos. Essa descoberta inspirou a ideia de que o problema de Descartes poderia ser finalmente resolvido. Com base em uma teoria funcionalista e promovida pelos desenvolvimentos da Inteligência Artificial (IA), estudos da filosofia da mente julgaram que, em computadores, o material e o mental funcionam juntos, sem nenhuma substância imaterial, como alma, mente ou um fantasma dentro da máquina. Assim, se pudéssemos entender como um computador pode imitar as funções intelectuais humanas – tomadas como racionais e inteligentes – também poderíamos entender como o funcionamento mecânico do cérebro pode provocar operações mentais. Deste modo, a mente poderia ser entendida em termos de características corporais, e então o problema de conciliar suas propriedades com as leis da física seria resolvido

A tentativa de entender o funcionamento da mente a partir do funcionamento dos computadores, permitiu sugerir que a mente fosse semelhante a um computador que poderia ser descrito como a execução de um software. Essa ideia foi adotada por uma abordagem de psicologia conhecida como “ciência cognitiva”. O teste de Turing – criado por Alan Turing em 1950 - fomentou a ideia de que os computadores poderiam ser equivalentes às mentes. A principal premissa do teste é a de que os computadores serão desenvolvidos até serem capazes de ter os mesmos desempenhos que os humanos. Mas a única maneira de concordar com essa crença é não objetar os princípios desta “possibilidade”.

O diretor de Engenharia do Google, Ray Kurzweil, compara a revolução tecnológica que está por vir nas próximas décadas com o salto evolutivo que levaria à diferenciação entre os primatas e o ser humano, há mais de dois milhões de anos. Segundo ele, em um futuro breve, todos seremos híbridos, contando com a inteligência biológica e artificial em nossos corpos, em uma sociedade onde as máquinas terão ultrapassado a inteligência humana.

Kurzweil reafirmou sua previsão de que, até 2029, a inteligência artificial passará o Teste de Turing, o que significa que alcançará a humana em todas as áreas. E, em 2045, o mundo atingiria a Singularity, ponto em que a ultrapassaria a inteligência humana e levaria à transformação da realidade como conhecemos, com o crescimento exponencial da tecnologia.

"Há dois milhões de anos, a expansão do córtex cerebral foi decisiva para desenvolver nossa espécie e nossa cultura. Antes, nenhuma cultura tinha inventado a música, por exemplo. E até 2030 vamos criar um córtex na nuvem virtual e inventar novos jeitos de nos comunicarmos com outros, que ainda nem imaginamos. Tente explicar a música para um primata, ele não iria compreender", comparou. Apesar das polêmicas discussões sobre quais serão os impactos de uma sociedade dominada por robôs, Kurzeweil está confiante de que esse salto tecnológico será benéfico.

"Sou acusado de ser um otimista. Mas a inteligência artificial já está no mundo, nos nossos bolsos, e, se olharmos para a história da humanidade, esse é o período mais pacífico de todos os tempos. Temos uma genética preferência pelas más notícias, porque isso é importante para nossa sobrevivência como espécie. Então, tendemos a prestar mais atenção nelas. Mas o mundo já está muito melhor", avaliou, citando a redução da pobreza global e a democratização da informação digital como indicativos desse avanço.

O Salto Evolutivo já teve início
O cenário de ficção científica parece cada vez mais perto - e concreto. Nos próximos três ou quatro anos, ele acredita que também estaremos imprimindo nossas roupas com as impressoras em 3D, e vendo os carros voadores atravessarem nossas cidades. Na área da saúde, microrrobôs prometem ser capazes de produzir células-tronco, regenerar órgãos e, assim, curar doenças como câncer e diabetes. "Os médicos vão estar dentro do nosso corpo", prevê Kurzweil, que já alcançou 86% de acerto em um conjunto de 147 previsões sobre o futuro feitas em 1999.

Sobre os céticos relacionados ao impacto de uma sociedade dominada por robôs, o engenheiro do Google lembrou que a responsabilidade sobre o uso dessas máquinas está em nossas mãos. "A questão central é que a inteligência artificial está aprendendo com os humanos. E alguns humanos têm preconceitos, as máquinas reproduzem isso. Mas com as máquinas podemos corrigir", argumentou.

Inteligência Artificial na área da saúde
O crescimento dessa tecnologia na área da saúde se deve ao suporte em tempo real e assertivo de tarefas como coleta e análise de dados dos pacientes, prevenção de doenças e diagnósticos precoces e orientação personalizada de tratamentos.
Os benefícios se estendem também à otimização de processos operacionais como o registro eletrônico de prontuários médicos, que centraliza e analisa as informações do paciente, facilitando a tomada de decisões e diminuindo o tempo na organização desses documentos.

A IA poderá auxiliar notavelmente nas atividades diárias, tornando os processos médicos mais rápidos, precisos e técnicos.
Em um futuro próximo, a Inteligência Artificial poderá avaliar todo o histórico médico de uma família e identificar se uma pessoa tem predisposição de desenvolver determinada doença ou não. Além disso, os diagnósticos serão mais detalhados, ajudando o médico a identificar doenças precocemente, aumentando as chances de cura e de reabilitação dos pacientes.

Satisfazendo um grande desejo humano: podemos ser ouvidos sem ter que escutar.
A Inteligência Artificial está cada vez mais avançada – e já aprendeu a nos imitar.
Segundo a psicóloga israelense Liraz Margalit, quando interagimos com A.I.s (entidades de inteligência artificial) falantes, nosso cérebro processa a interação virtual como se fosse real – inclusive atribuindo características humanas aos chatbots. É a mesma coisa que fazemos com animais de estimação, uma tendência natural chamada de “antropomorfismo”.
Um bate papo humano não é marcado só por palavras. O tom de voz e as expressões faciais complementa o significado do que está sendo dito.
Já os robôs não precisam se envolver emocionalmente nem interpretar sinais não verbais. Simplificamos nossa linguagem ao tratar com eles e os dois lados se compreendem facilmente.
O cérebro humano tem a tendência evolutiva de preferir a simplificação no lugar da complexidade, o que Margalit chama de “preguiça cognitiva”. Nossas interações cognitivamente simples com os robôs podem, então, estimular a construção de um novo modelo mental de interação social.

A grande preocupação da psicóloga é que se possa substituir relações humanas por relações com inteligência artificial.
E há muitos motivos para isso. Em primeiro lugar, falando com a Siri você é capaz de atingir seu objetivo – seja ele fazer uma pesquisa, saber sobre o tempo ou simplesmente ter a sensação de companhia – sem custo nenhum, de forma absolutamente conveniente. Você não precisa ser educado, sorrir, se envolver nem se colocar no lugar do outro.

Além disso, todas as relações envolvem jogo de poder. Só que, no caso da Inteligência Artificial, você é sempre o “chefe”, e está na posição dominante – afinal, esse companheiro virtual foi programado exclusivamente para te servir. “A combinação entre inteligência, lealdade e fidelidade é irresistível à mente humana”, explica Margalit. Isso alimenta nosso egoísmo primitivo: podemos ser ouvidos sem ter que escutar.

Aí vai dar para dizer que “o mundo está ficando chato”: um monte de Sheldons, mimados e alheios à qualquer sarcasmo, conversando entre si e com as máquinas, sem nenhuma plateia capaz de entender a ironia da situação.

Embora muitas máquinas hoje já estejam preparadas para fazer julgamentos e avaliações que antes pareciam apenas aptidões geradas a partir da cognição humana, como o robô Watson, desenvolvido pela IBM e capaz de compreender ironias, gírias e inúmeras variações de linguagens, se reconhece que um dos diferenciais humanos mais significativos ainda é a criatividade. “A fronteira da Inteligência Artificial é a interação pessoal, saber como a pessoa está se sentindo.

O professor Cesar Alexandre de Souza acende uma luz de esperança, parafraseando Pablo Picasso. Ele disse que “o grande problema dos computadores é que são ótimos em dar respostas. É justamente isso. A questão não são só as respostas, mas as perguntas. O ser humano ainda preserva essa capacidade única de fazer perguntas”, aponta. Para o professor, é nisso que reside a criatividade e a capacidade de adaptação humana.

A relação com tecnologia é inevitável e o ser humano tem de ser capaz de, criativamente, ir se associando a ela para assegurar seu futuro profissional. Entretanto, isso não é suficiente. Não basta pensar em um desenvolvimento pessoal, a sociedade toda deve estar preocupada com isso. Afinal, inevitavelmente vai impactar na vida de quem não conseguir se adaptar. Conclui Cesar Alexandre de Souza.



Fonte:
https://super.abril.com.br/comportamento/a-inteligencia-artificial-vai-matar-o-sarcasmo/
https://journals.openedition.org/rccs/9150