A
Teoria das Janelas Quebradas ou "broken windows theory",
foi desenvolvida em 1982, na escola de Chicago pelo cientista
político James Q. Wilson e o psicólogo criminologista George
Kelling.
Explica
que se uma janela de um edifício for quebrada e não for reparada, a
tendência é que vândalos passem a arremessar pedras nas outras
janelas e posteriormente ocupem o edifício e possam destruí-lo. O
que significa que um comportamento anti-social pode dar origem a
vários delitos. A desordem gera desordem.
No final da década
de 60, psicólogos americanos resolveram dar início a uma curiosa
experiência. Deixaram dois automóveis em dois barros distintos:
Bronx, zona pobre e conflituosa de Nova Iorque, e Palo
Alto, na Califórnia, que vivia uma situação oposta.
Os carros eram do
mesmo modelo, cor e estavam em semelhante estado de conservação. O
resultado não poderia ser diferente. O carro que estava na periferia
foi rapidamente depredado, roubado e as peças que não serviam para
venda foram destruídas. O carro que estava na área nobre da cidade
permaneceu intacto. Mas isso já era previsto pois era fácil
concluir que a pobreza e a marginalização eram os “culpados”
pelo crime.
O vidro quebrado do
carro abandonado transmitia uma ideia de deterioração, de
desinteresse e indiferença, que criou um sentimento de
impunidade, uma ausência de leis, normas e regras. O vidro quebrado
criava uma sensação de que “tudo pode”. Nesta situação, cada
ataque que o carro sofria, reafirmava e multiplicava essa ideia, até
que o vandalismo se tornava incontrolável.
Mas a experiência
não tinha sido concluida ainda. O que eles queriam mesmo comprovar
era um outro fenômeno. Sendo assim, prosseguiram quebrando as
janelas do carro que estava abandonado no bairro rico e o resultado
foi o mesmo que aconteceu na periferia: tendo bastado uma simples
janela quebrada para dar início ao vandalismo completo.
A conclusão do
experimento é que um ambiente mal cuidado, sujo e depredado é um
motivador para o vandalismo e para a violência e que o problema da
criminalidade não estava na pobreza e sim no desenvolvimento das
relações sociais e na natureza humana.
A teoria sublinha o
fato de que somos influenciados pelo ambiente ao nosso redor ao
optarmos por realizar ou não atos de vandalismo, depredação,
desordem e violência. Aponta a desordem como um fator de elevação
dos índices da criminalidade, e indica que os danos ambientais geram
uma sensação de que a lei não existe. Por isso, em uma situação
onde não há regras, é mais provável que ocorram vandalismos.
Isso pode acontecer
com as organizações que são muito flexíveis; essa flexibilidade
pode ser confundida com desinteresse. Se em uma comunidade ninguém
repara o vidro quebrado de uma janela de um edifício, os outros
vidros também serão quebrados. Se membros de uma comunidade mostram
sinais de deterioração e ninguém se preocupa com eles,
possivelmente o resultado poderá ser a delinquência.
Da mesma forma,
concluem os defensores da teoria, quando são cometidas "pequenas
faltas" . estacionar em lugar proibido, exceder o limite de
velocidade, passar com o sinal vermelho - e as mesmas não são
sancionadas, logo começam a surgir faltas maiores e os delitos cada
vez mais graves.
Desordem
gera desordem
A teoria parece
interessante e bastante convincente. Pois, de fato, a desordem gera
desordem.
O estudo dessa
teoria pode ajudar a se pensar em melhorias e a entender que mudanças
simples podem transformar o contexto não só da sua vida mas do seu
ambiente, da sua cidade e até do nosso país. Basta pensar em uma
pia limpa sem pratos sujos. Se você acabou de beber seu café, vendo
a pia limpa, a tendência é lavar sua xícara. Mas se a pia estiver
cheia de pratos sujos, você é naturalmente levado a colocar mais
uma xicrinha suja.
Qual a sua
responsabilidade na desordem da qual você se queixa?”. Em qualquer
situação, sempre existe uma parte pela qual você pode se
responsabilizar ou se comprometer. E mesmo que essa parte seja
pequena, ela pode influenciar positivamente na resolução.
O experimento
norte-americano incentivou as autoridades a tomar medidas mais
severas em relação a pequenos delitos, como depredações e
pichações nas ruas, uma medida conhecida como “Tolerância Zero”.
Concomitantemente, o executivo começou a investir mais na
restauração visual dos lugares mais afetados pela violência, e a
medida se provou efetiva, causando diminuição nos índices de
criminalidade nos Estados Unidos.
A Teoria das Janelas
Quebradas estabeleceu a primeira relação de causalidade entre
desordem e criminalidade, ou seja, que pequenos delitos ou
contravenções conduzem, inevitavelmente, a condutas criminosas mais
graves. Ela foi aplicada em vários contextos americanos. O metrô de
Nova York, nos anos 80, era o lugar mais perigoso da cidade. Tomando
como referência a teoria das janelas quebradas, começaram a reparar
os danos das estações do metrô: a sujeira foi removida, as
pichações foram apagadas, todos pagavam as passagens e pequenos
furtos foram monitorados. O resultado foi que o metrô se transformou
em um lugar seguro.
Em 1994, Rudolph
Giuliani, prefeito de Nova York, baseado na Teoria das Janelas
Quebradas e na experiência do metrô, deu impulso a uma política
mais abrangente de "tolerância zero". A estratégia
consistiu em criar comunidades limpas e ordenadas, não permitindo
transgressões à lei e às normas de civilidade e convivência
urbana. O resultado na prática foi uma enorme redução de todos os
índices criminais da cidade de Nova York.
Filosofia
dos 5S
Já foi provado que
a qualidade do ambiente em que vivemos tem grande influência sobre
nossos comportamentos e atitudes. A maior evidência disso talvez
seja a filosofia japonesa dos 5S, que defende a prática de cinco
sensos – Utilização (Seiri), Disciplina (Shitsuke), Higiene
(Seiketsu), Organização (Seiton) e Limpeza (Seiso) – para a
construção de um ambiente saudável, que favorece um clima
organizacional marcado pela produtividade, segurança, motivação e
competitividade.
Tolerância
zero igual a repressão?
“A expressão
"tolerância zero", a priori, pode soar como uma espécie
de solução autoritária e repressiva. Se for aplicada de modo
unilateral, pode facilmente ser usada como instrumento opressor pela
autoridade fascista de plantão, tal como um ditador ou uma força
policial dura. Mas seus defensores afirmam que o seu conceito
principal é muito mais a prevenção e a promoção de condições
sociais de segurança. Não se trata de linchar o delinquente, mas
sim de impedir a eclosão de processos criminais incontroláveis. O
método preconiza claramente que aos abusos de autoridade da polícia
e dos governantes também deve-se aplicar a tolerância zero. Ela não
pode, em absoluto, restringir-se à massa popular. Não se trata,
é preciso frisar, de tolerância zero em relação à pessoa que
comete o delito, mas tolerância zero em relação ao próprio
delito. Trata-se de criar
comunidades limpas, ordenadas, respeitosas da lei e dos códigos
básicos da convivência social humana.
A tolerância zero e
sua base filosófica, a Teoria das Janelas Quebradas, colocou
Nova York na lista das metrópoles mundiais mais seguras. Talvez elas
possam, também, não apenas explicar o que acontece aqui no Brasil
em matéria de corrupção, impunidade, amoralidade, criminalidade,
vandalismo, etc., mas tornarem-se instrumento para a criação de uma
sociedade melhor e mais segura para todos. (Luis Pellegrini)